Águas Belas: mergulhando na tradição da tribo Fulni-ô
- Maria do Céu
- 3 de ago. de 2018
- 2 min de leitura

O estado de Pernambuco tem registro de povos indígenas distribuídos entre os municípios de Águas Belas (os Fulni-ô), Pesqueira (Xucurú), Buíque (Kapinawá), Cabrobó (Truká), Inajá, Petrolândia (Pankararú), Jatobá, Tacaratu, Floresta (Kambiwá) e Carnaubeira da Penha (Atikum), somando uma população de aproximadamente 25.720 índios. Pernambuco é o quarto estado em número de indígenas no país, ficando atrás apenas do Amazonas, Mato Grosso do Sul e Pará. Apesar do contato de mais de cinco séculos com sociedade não-indígena, ainda conserva traços marcantes de sua cultura e manifestação religiosa. Devido à forte miscigenação com brancos e negros, a sua aparência física perdeu a identidade.
As tradicionais figuras do cacique e do pajé, ainda sobrevivem em todos os grupos, assim como o toré é dançado em todas as comunidades, não apenas como divertimento, mas também na transmissão de traços culturais. Com exceção dos Fulni-ô, nenhum dos grupos conservou o idioma tribal - o Ia-tê. Com uma população de quase 7 mil índios, a tribo Fulni-ô ainda sofre com a invasão de suas terras. A história da tribo inicia quando os portugueses chegaram ao Brasil, no século 16, e surgiram os conflitos como os "homens brancos". Os índios ocupavam uma grande área e, com o passar do tempo, foram ficando encurralados em um espaço cada vez menor. Hoje, a reserva indígena dos Fulni-ô (que significa "povo à beira do rio") fica a 300 quilômetros de distância do rio mais próximo. E foi justamente essa realidade que fomos conferir na nossa passagem por Águas Belas, no Agreste do estado.

Uma das coisas que eles mais sentem falta é de portões para demarcarem o território da aldeia. Eles explicam que por ser uma área protegida pelo governo, apenas a polícia federal pode entrar lá. Então, se algum delinquente comete algum crime, ele vai se esconder no território dos índios, uma vez que a polícia militar não pode entrar lá para fazer as buscas. Uma das poucas áreas de lazer das crianças, o campo de futebol da aldeia não tem estrutura para a prática do esporte. Outro ponto que nos chamou atenção foi a problemática do lixo deixado pelo homem branco no território deles. Tem entulhos de mais de quatro anos lá e ninguém toma nenhuma providência.
Na casa do nosso amigo Macairí e sua esposa, fomos recepcionados com um jantar (galinha guisada muito gostosa) e uma apresentação de dança muito bacana. Fiquei feliz em ver como eles ainda mantêm suas raízes culturais. Eles têm ateliês de confecção de artesanato, um laboratório com plantas medicinais e três escolas, sendo uma delas bilíngue, ainda ensinando o Ia-tê. Para manter viva a cultura, os indígenas se reúnem uma vez por ano, durante três meses, em uma região afastada e realizam um ritual chamado Ouricuri, onde só é permitida a presença dos Fulni-ô. Neste período, eles sobrevivem exclusivamente do cultivo de alimentos, caça e pesca e conversam unicamente na língua nativa.

E é isso que queremos e devemos fazer: valorizar a cultura desses povos, assegurar suas terras e preservar suas tradições, dando a eles também a oportunidade de se inserirem no mercado de trabalho. Sejam eles Fulni-ôs, Xucurús, Kambiwás, ou qualquer outro povo. Somos todos pernambucanos e vamos lutar por um estado melhor para todos.
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